quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Infantil?

Quando caiu no chão, a imagem que havia no espelho se quebrou em vários pedaços. Mas como uma figura, um quadro, não saiu de cada caco. Aqueles pedaços de vidro sangravam, aqueles pedaços de pessoa, de mão, braço, peito, joelho. Ai, como aquela parte do joelho sangrava no vidro transparente! Parecia que todo o sangue do mundo era guardado naquela dobra...
Ela olhava atônita. Não sabia o que dizer. O que fazer. Juntava os cacos ensanguentados, chorava compulsivamente. Tentava colar pedaços de um passado que não se pode mais juntar sem deixar marcas... E as gotas de sangue que ficaram pelo chão? Aquelas jamais se apagariam...
Pensava consigo mesma: posso colar. Posso fazê-lo voltar a ser como era antes. Posso fazer tudo voltar a ser como era antes. Mas o Tempo, deus da saudade, se ri da menina... Boba... Não entendeu nada desses anos todos. Como deus das coisas irreversiveis, percebia que nada pode ser como era antes. É correnteza que arrasta para muito longe, para sempre.
Tentando colar, juntava todos aqueles pedaços... Sabia que era ela que estava lá. Era ela que sangrava e morria dentro do quadro de vidro... Mas já não era mais ela. Era outra pessoa... Uma que desfalecia, perdia seus últimos movimentos, sua face, sua unidade. Sobravam apenas fragmentos. Fragmentos de um eu despedaçado que se olhava em fragmentos de um espelho despedaçado e tentava achar algo que se assemelhasse.

E aí eu me pergunto pelo amor...

Um comentário:

Unknown disse...

Sensível, delicado, profundo e, por que não, emocionante. Curioso é comentar uma coisa e perceber que não se fala dela, mas da dona dessa coisa(texto).
Beijos
ps.: um dia triste, buscando coisas pra fazer, eu não encontro o link de como ser "colaborador", talvez tarde demais, enfim...