segunda-feira, 12 de abril de 2021

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

VOCÊ SABE FAZER MAQUETE?
Veja as maquetes feitas pelos alunos do 2º ano C, da professora Cida















quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Infantil?

Quando caiu no chão, a imagem que havia no espelho se quebrou em vários pedaços. Mas como uma figura, um quadro, não saiu de cada caco. Aqueles pedaços de vidro sangravam, aqueles pedaços de pessoa, de mão, braço, peito, joelho. Ai, como aquela parte do joelho sangrava no vidro transparente! Parecia que todo o sangue do mundo era guardado naquela dobra...
Ela olhava atônita. Não sabia o que dizer. O que fazer. Juntava os cacos ensanguentados, chorava compulsivamente. Tentava colar pedaços de um passado que não se pode mais juntar sem deixar marcas... E as gotas de sangue que ficaram pelo chão? Aquelas jamais se apagariam...
Pensava consigo mesma: posso colar. Posso fazê-lo voltar a ser como era antes. Posso fazer tudo voltar a ser como era antes. Mas o Tempo, deus da saudade, se ri da menina... Boba... Não entendeu nada desses anos todos. Como deus das coisas irreversiveis, percebia que nada pode ser como era antes. É correnteza que arrasta para muito longe, para sempre.
Tentando colar, juntava todos aqueles pedaços... Sabia que era ela que estava lá. Era ela que sangrava e morria dentro do quadro de vidro... Mas já não era mais ela. Era outra pessoa... Uma que desfalecia, perdia seus últimos movimentos, sua face, sua unidade. Sobravam apenas fragmentos. Fragmentos de um eu despedaçado que se olhava em fragmentos de um espelho despedaçado e tentava achar algo que se assemelhasse.

E aí eu me pergunto pelo amor...

segunda-feira, 17 de março de 2008

SUGESTÃO DO DIA

Olá!

Sugiro VEEMENTEMENTE a leitura da matéria que está no link abaixo... Fala sobre um violinista que tocou no metrô. E a reação do público.

Clique aqui para ler a matéria.

Sugiro ainda que atentem para o link na lateral do site que diz: Leia essa matéria ao som da performance de Joshua Bell no metrô

Vou colocar aqui um trechinho para que se dêem conta da grandeza da mensagem...

"O poeta Billy Collins certa vez observou com humor que todos os bebês nascem conhecendo poesia, porque a batida do coração da mãe forma um iambo. E então, disse Collins, a vida começa a sufocar aos poucos a poesia que havia em nós. O que também pode se aplicar à música.

Não há um padrão étnico ou demográfico que possa diferenciar as pessoas que ficaram para ouvir Bell, ou as que deram dinheiro, da vasta maioria que seguiu o seu caminho apressado, sem tomar conhecimento do músico. Há brancos, negros e asiáticos, jovens e velhos, homens e mulheres, representados nos três grupos. Só existe um grupo demográfico cujo comportamento foi sempre consistente. Toda vez que uma criança passava, tentava parar para assistir. E, toda vez, o pai ou a mãe não deixava.

(...)


Para muitos de nós, a explosão da tecnologia, em vez de expandir, limitou de forma perversa nossa exposição a novas experiências. Cada vez mais, quem nos dá as notícias são fontes que pensam como já pensávamos. Com os iPods, ouvimos o que já conhecíamos; somos nós que programamos a lista do que vamos ouvir.

A canção que Calvin Myint estava ouvindo era Just Like Heaven, do conjunto de rock inglês The Cure. A canção, na verdade, é maravilhosa. Seu significado é um pouco opaco, e podem-se encontrar na internet muitíssimas tentativas esforçadas de desconstruí-la. Algumas são bem exageradas, mas outras são pertinentes. A canção fala de uma trágica desconexão emocional. Um homem encontrou a mulher dos seus sonhos mas não consegue exprimir a profundidade dos seus sentimentos antes de ela ir embora. A canção fala da incapacidade de vermos a beleza claramente exposta diante dos nossos olhos."
Não escrevo versos
Premonizo.
Sinto crianças, velhos
Sinto dores, amores, risos.
Traduzo
o que dizem os passarinhos
Eles, sim Рv̻em o mundo futuro
Com olhar alto, como uma teia tecida por mãos criadoras
E sabem ser criadores seu olhar, seu cantar e seu fazer ninhos.
Eu, ṇo Рvejo hoje o mundo
Cheio de pesar...

Há momentos em que sou cética:
Não acredito no que vejo
Mas no que vêem os passarinhos
Mundo amarelo e roxo, mundo clown, mundo sentido.

RENATA MAGALHÃES
Era uma menina
- Ricamininapobre
Quando ria, o céu brilhava alaranjado
- E óia que ria muito!
Depois sentiu a dor dos outros...
- Chorava rino!
- E óia que chorava muito...
Cantava o mar, cantava mal
- E óia que cantava muito!
Só tinha uma coisa que não saciava
- E óia que cumia muito!

De tanta fome, comeu o futuro.

RENATA MAGALHÃES

Representatividade

Eu...queria tanto encontrar
Uma pessoa como eu
A quem eu possa confessar
alguma coisa sobre mim

(“Eu” – Pato Fu)

Existe representatividade?

O que me representa no mundo?

Os programas de Tv, as revistas e jornais mostram o que eu quero ver , ler?

As propagandas trazem o que eu quero consumir?

Os nossos governantes nos representam?

Minha família, cidade e país de origem representam o que eu sou?

O que me representa no mundo?

Eu me represento? Ou apenas represento, cada dia hora e segundo, um papel diferente no tempo?

A palavra representa a coisa?

Já se sabe que não, pois o pai da ciência da língua1 faz tempo que assinalou a distância entre a palavra e a sua referência concreta.

Será então que as palavras representam nossos pensamentos e sentimentos?

Também não, pois como disse Pessoa2 "Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento, assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade."

Se cultura é linguagem e a linguagem é falha, por que insistimos então na cultura?

Talvez seja porque a cultura seja a expressão da visão que o homem tem do mundo, e assim, como toda visão é parcial, a linguagem filha desta, também o será.

E estamos, desde que nos tornamos humanidade, tentando alargar sempre esta visão.

Pois esta visão, esta cultura, esta linguagem não traz o todo do mundo, mas traz uma parte.

Parte esta que é real a partir do momento que é a visão de um homem.

Mas o homem não se contenta em ter essa visão sozinho.

Se se contenta é chamado de louco.

O homem quer que outros homens compartilhem essa visão.

Quando um homem tenta impor sua visão a outros homens ele é chamado de tirano.

Quando um homem tenta convencer da sua visão, outros homens, ele é chamado de filósofo.

Quando um homem tenta fazer sentir sua visão em outros homens ele é chamado de poeta.

E se o homem quer tanto que outros homens tenham sua visão deve ser porque ele precisa.

Se ele precisa então o homem deve ser mesmo um ser gregário.

O homem necessita sim de outros homens, mas não quaisquer homens, semelhantes.

O homem necessita se juntar a seus semelhantes.

E os semelhantes são aqueles que compartilham da mesma visão.

Resgata-se aqui a cultura.

Redime-se aqui a linguagem.

Será que é possível juntar várias visões de vários homens num mesmo espaço?

Afinal, isso é o que entendemos por democracia.

Há espaços geográficos que são divididos por diferentes homens.

Mas será que há espaços compartilhados por diferentes homens?

E se há espaços compartilhados por diferentes homens, há espaços para todas as vozes de suas visões?

É possível haver uma voz que se divida contendo todas as vozes?

Uma voz de todas as visões? Como uma boca para vários olhos?

É uma pena não estarmos mais na época dos manifestos, eles eram bonitos porque acreditavam ser a verdade, lindos nessa sua mentira sincera.

O que deveria era haver um espaço para todas as verdades.

O problema de criar um espaço é que se deixa de fora todo o resto.

Sabemos disso, mas não seria ótimo tentar, sonhar em abarcar num mesmo espaço todos os tipos homens?

Se este fosse um manifesto ele seria um manifesto antropocêntrico e antropofágico também, é claro, que não se deve andar para trás.

Mas antropocêntrico no sentido atual da antropologia, o qual as comunidades humanas e os homens não são piores ou melhores entre si, apenas diferentes.

Mais que isso. A psicanálise também já provou que esta história de Eu é construção. O Eu não é único é refeito a cada momento.

Então deveríamos ter um espaço para todos os Eus , os Eus que é você, os Eus que é ela, os Eus que é ele e todos os meus Eus.

Interação entre diferentes versões de uma pessoa e entre pessoas de diferentes versões.

Não é essa a função da liguagem?

Escrever e ser...

Ler e sentir não é função máxima da poesia?

Ler e ser afetado não é função máxima da prosa?

Ler e ser atingido não é função máxima da escrita?

Ler, ser atingido, ser afetado, sentir, mudar minha postura em relação ao mundo e o mundo – não é função máxima da comunicação?

Sim, a mudança, não por causa de um eu que quer mas de um nós que necessita.

Sim mudar, mas como consequência e não causa da escrita.

Ninguém escreve pra mudar, escreve por necessidade.

E, de novo, se a necessidade de um for a necessidade de muitos, muitos mudam a realidade para que esta abarque suas necessidades.

Por isso é preciso que os homens falem entre si quais necessidades têm.

É por isso que se escreve.

Não há realmente encontro entre homens, mas tentativas.

Esse espaço que aqui se apresenta é uma tentativa, mais uma tentativa... mas, como disse Clarice Lispector3, toda tentativa também é uma realização.



MELISSA CRUZ




1 As aulas de Ferdinand de Saussure foram reunidas por seus alunos e publicadas, em 1916, no livro Curso de Lingüística Geral (Cours de Linguistique Générale), livro esse que é considerado o fundador da lingüística moderna. Dentre seus ensinamentos Saussure assinala a arbitrariedade do signo , ou seja, sendo signo lingüístico = significante + significado ou, simplificando, signo = imagem acústica (som) + conceito, vê-se que não há nenhuma correlação entre o som e o sentido (entre significante e significado). Em suas palavras " (..) a idéia de "mar" não está ligada por relação alguma interior à seqüência de m-a-r que lhe serve de significante; poderia ser representada igualmente bem por outra seqüência, não importa qual; como prova, temos as diferenças entre as línguas e a própria existência de línguas diferentes: o significado da palavra francesa boeuf ("boi") tem por segnificante b-ö-f de um lado da fronteira franco-germânica, e o-k-s (Ochs), do outro." ( na tradução de José Paulo Paes, Antônio Chelini e Izidoro Blikstein, editora Cultrix - capítulo I da primeira parte)

2 " Assim Como
Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade,
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada.
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos, infância da doença.

Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença."

Poemas completos de Albero Caieiro – Fernando Pessoa

3 "Nem tudo que escrevo resulta em algo acabado, é mais uma tentativa , o que também é uma realização porque nem tudo eu quero pegar."

Clarice Lispector em Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres